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A Polícia Civil de São Paulo corrigiu um equívoco relacionado à análise de uma conta bancária atribuída a Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, mas reiterou que as movimentações financeiras do dirigente seguem sob suspeita no âmbito da investigação do caso VaideBet.
O inquérito, que apura o desvio de recursos no contrato de patrocínio entre o clube e a casa de apostas, aponta que Melo realizou diversas operações consideradas “atípicas”, incluindo depósitos em espécie sem origem identificada, o que reforça a suspeita de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
Correção de erro não elimina indícios de irregularidade
Inicialmente, o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) havia identificado movimentações suspeitas em uma conta bancária localizada em Blumenau (SC), supostamente vinculada a Augusto Melo. Após contestação da defesa, o órgão reconheceu o erro e confirmou que a conta não pertencia ao dirigente.
No entanto, a conta correta, registrada em São Paulo, foi posteriormente analisada com autorização judicial, revelando 63 depósitos em espécie entre dezembro de 2023 e abril de 2024, totalizando R$ 152 mil — todos sem identificação do depositante.
Segundo o relatório da Polícia, os depósitos foram realizados em valores inferiores a R$ 2 mil, o que, de acordo com a normativa do Banco Central, dispensa a identificação do remetente. A prática é conhecida como “fracionamento de depósitos”, uma tática comum para burlar mecanismos de controle financeiro e dificultar o rastreamento da origem dos recursos.
Suspeita de uso de verba desviada para quitar dívidas pessoais
O inquérito também aponta que parte da comissão paga no contrato com a VaideBet, estimada em R$ 25,2 milhões, teria sido desviada para quitar dívidas pessoais de Augusto Melo, incluindo um suposto empréstimo com um agiota da zona leste de São Paulo. O relatório menciona que o dirigente vinha sendo ameaçado de morte por conta da dívida, o que teria motivado o uso de recursos do clube para resolver pendências particulares.
A investigação identificou que os valores desviados foram transferidos para empresas de fachada, como a Neoway e a UJ Football Talent Intermediação, esta última citada em delações que envolvem o crime organizado, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Indiciamento e defesa de Augusto Melo
Com base nas evidências reunidas, a Polícia Civil indiciou Augusto Melo pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Também foram indiciados Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing), Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo), Alex Cassundé (intermediador do contrato) e Yun Ki Lee (ex-diretor jurídico), este último por omissão relevante.
A defesa de Melo, liderada por José Eduardo Cardozo e recentemente reforçada pelo advogado Marcio Sayeg, afirma que todas as transações bancárias foram entregues voluntariamente à Polícia e que os valores constam na declaração de Imposto de Renda do dirigente.
A equipe jurídica tenta reverter o impeachment aprovado pelo Conselho Deliberativo do Corinthians e aguarda a realização da Assembleia Geral marcada para 9 de agosto, que poderá confirmar ou anular a destituição.
Resumo das movimentações bancárias suspeitas
- Período analisado: Dezembro de 2023 a abril de 2024
- Total depositado em espécie: R$ 152 mil
- Número de depósitos: 63
- Valor médio por depósito: R$ 2.000 ou menos
- Origem dos recursos: Não identificada
- Objetivo da prática: Suspeita de fracionamento para ocultar origem ilícita
Próximos passos da investigação
O relatório final da Polícia foi encaminhado ao Ministério Público, que já ofereceu denúncia formal. O caso agora será analisado por um juiz, que decidirá se os indiciados se tornarão réus em processo penal. A expectativa é que novas diligências sejam realizadas para rastrear o destino final dos recursos desviados e aprofundar a possível ligação com organizações criminosas.
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